Greve Mundial pelo Clima: agora também no Brasil
Em São Paulo, grupos organizam ato e lançam
manifesto. Na preparação, ciclo de cinedebates sobre grandes temas
socioambientais brasileiros. Ataque de Bolsonaro contra indígenas, Amazônia e
agroecologia pode ter resposta à altura
Os protestos
socioambientais, que fizeram parte da paisagem política brasileira nas marchas
contra a Usina de Belo Monte e na defesa dos territórios indígenas, podem
povoar de novo as ruas em breve. Em São Paulo, uma Coalizão pelo
Clima — formada por ativistas de diversas origens —
decidiu somar-se à Greve Global
pelo Planeta, convocada em dezenas de países para a semana
entre 20 e 27 de setembro.
A mobilização é resposta, também, à saraivada de ataques — concretos e simbólicos — que o governo Bolsonaro lançou contra os povos originários, a Amazônia, o cerrado, a agroecologia e todas as iniciativas que propõem novas relações entre ser humano e natureza. A tentativa de calar o INPE, órgão que monitora o desmatamento amazônico, é apenas o atentado mais recente. Os retrocessos têm chocado a opinião pública internacional e brasileira. Uma forte participação do país na greve planetária é uma forma de expressar esta indignação nas ruas, estabelecer alianças e resistências.
A mobilização é resposta, também, à saraivada de ataques — concretos e simbólicos — que o governo Bolsonaro lançou contra os povos originários, a Amazônia, o cerrado, a agroecologia e todas as iniciativas que propõem novas relações entre ser humano e natureza. A tentativa de calar o INPE, órgão que monitora o desmatamento amazônico, é apenas o atentado mais recente. Os retrocessos têm chocado a opinião pública internacional e brasileira. Uma forte participação do país na greve planetária é uma forma de expressar esta indignação nas ruas, estabelecer alianças e resistências.
A causa ambiental,
antes restrita a grupos de classe média, parece ter tomado dimensão
inteiramente nova no último ano — tanto do ponto de vista social quanto
político. Manifestações
gigantescas, marcadas em especial pela presença de jovens e
adolescentes, eclodiram em 2018 nas capitais europeias, mas também em países como
a Índia, África do Sul e Colômbia. Nos EUA, uma nova esquerda
irreverente, com clara postura anticapitalista, lançou a
ideia de um “Green New Deal”, que soma o esforço contra o aquecimento global a
uma clara luta pela redistribuição de riqueza. Os defensores da proposta
associam a meta de emissão líquida zero de CO², em 2025, à redução das
desigualdades e do desemprego, por meio de uma vasta agenda de ações de
infraestrutura destinadas a superar os combustíveis fósseis, construir usinas
eólicas e fotovoltaicas, substituir o transporte automotivo por ferrovias,
promover reflorestamento com espécies nativas e outras medidas.
Leia na íntegra, a
seguir, o manifesto que prepara a manifestação em SP.
Há Mundo por Vir?¹ — Manifesto da
Coalizão pelo Clima São Paulo
A Coalizão pelo
Clima São Paulo é uma articulação ampla, suprapartidária e democrática,
composta por diversos coletivos que debatem e fazem ações de informação e
combate às mudanças climáticas. Este manifesto pretende iniciar um diálogo com
a sociedade, com base no conhecimento da ciência atual e nos saberes dos povos
originários, como indígenas, quilombolas e caiçaras, sobre a Emergência
Climática e os níveis já perigosos de interferência humana na Terra.
Reivindicamos ações concretas e urgentes das autoridades. Pois, se tudo
continuar como está, o futuro não existirá.
Não faltaram avisos
às autoridades governamentais e corporações sobre o colapso ecológico global.
Desde finais dos anos 1960, sucedem-se advertências e alertas de que, se
continuarmos nesse ritmo, a civilização humana tal como a conhecemos deixará de
existir. A lógica de desenvolvimento econômico desenfreado, que entende a
natureza como fonte de recursos infinitos (não é!) que se mede em dinheiro,
nunca trouxe equilíbrio nem justiça. Pelo contrário: criou as condições que nos
levaram a esta situação.
Hoje o consenso
científico acerca das causas antropogênicas do aquecimento global chega a 99%
entre os climatologistas e outros cientistas da Terra. Mesmo assim, visando
apenas seus ganhos, grandes empresas empregam estratégias de desinformação com
o objetivo de semear dúvidas na opinião pública e, junto aos governos de
cada país, violar a natureza com cada vez mais brutalidade – e impunidade.
Enquanto isso, as evidências
empíricas se acumulam:
- Cada
década desde a de 1970 foi sucessivamente mais quente que a anterior
- 20
dos 22 anos mais quentes registrados em escala global ocorreram desde 1998
- O
período entre 2014 e 2018 acusa uma clara aceleração do aquecimento global
A queima crescente
de combustíveis fósseis para satisfazer um modo de vida cada vez mais
consumista faz com que as temperaturas atinjam, ano após ano, novos recordes.
Todo esse aquecimento causará consequências gravíssimas como desmoronamentos,
incêndios florestais, quebras de safras agrícolas, fome, doenças, chuvas
extremas, ondas de calor, enchentes e secas prolongadas.
O aumento do nível
dos oceanos, provocado pelo derretimento das geleiras, produzirá um número cada
vez maior de refugiados climáticos, inclusive na costa brasileira. Tais eventos
não ocorrem sem aumentar ainda mais as instabilidades políticas e disputas e
guerras por recursos naturais. A mudança de temperatura já provoca também
extinção de diversas espécies, ocorrendo a taxas 500 a 1000 vezes maiores do
que as consideradas normais.
Isso levou vários
cientistas a afirmar que estamos em meio à 6ª extinção em massa da história da
vida na Terra.
No Brasil, o
desmatamento causado pela expansão devastadora do agronegócio e da pecuária, a
mineração e a poluição dos rios e oceanos contribuem para a aceleração desse
processo. Nossos ecossistemas estão todos prejudicados. A previsão é que nosso
Cerrado, o berço da maior parte das bacias dos rios São Francisco, Araguaia e
Tocantins, pode acabar em 2030. Restam apenas 12,4% da Mata Atlântica. O
Pantanal e os Pampas estão sendo destruídos. A Floresta Amazônica já perdeu 20%
de sua cobertura original e está perdendo hoje o equivalente a três estádios de
futebol por minuto.
Não seremos capazes
de evitar o colapso global se não mudarmos a dinâmica do sistema vigente. Isso
não é possível de forma individual: precisamos de medidas concretas que alterem
profundamente os modos de produção, distribuição e consumo atuais. O caminho
pela frente é imenso e extremamente difícil. Ainda que possa parecer
irrealista, com o colapso que já se avista e suas enormes consequências,
irrealista mesmo é achar que não precisamos enfrentá-lo. Nossa casa é aqui e
nosso tempo é agora.
Temos muito
trabalho pela frente.
Por isso, a
Coalizão pelo Clima São Paulo reivindica que as autoridades brasileiras:
1. Neutralizem as
emissões de carbono até 2030 e criem políticas públicas de promoção do
reflorestamento e investimentos em energias renováveis, além de cumprir o
compromisso de Estado assumido no Acordo de Paris de reflorestar 12 milhões de
hectares até 2025;
2. Mobilizem mais
recursos para pesquisa e implementação de iniciativas e soluções voltadas para
ações climáticas;
3. Ampliem a
educação sobre meio ambiente e sustentabilidade nas escolas, universidades e
comunidades;
4. Cobrem grandes
devedores do governo no setor empresarial – agronegócio, pecuária, bancos,
igrejas, indústrias – para formar um fundo de combate às mudanças climáticas;
5. Instituam um
conselho de combate às mudanças climáticas composto de forma paritária pela
sociedade civil, comunidade científica, organizações não-governamentais e
representantes do governo.
Coalizão
pelo Clima São Paulo: coalizaoclimasp@protonmail.com
Twitter:
@coalizaoclima_sp / Facebook: Coalizão pelo Clima / Instagram: coalizaoclimasp
A
Coalizão pelo Clima SP agradece à professora Déborah Danowski e ao professor
Luiz Marques pela colaboração e revisão do presente manifesto.
[1]
Título inspirado no livro dos autores Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de
Castro “Há Mundo por Vir? Ensaio sobre os Medos e os Fins”, e autorizado pelos
mesmos.
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