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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

São Paulo 2022 ajuda sociedade e poder público refletirem sobre futuro da cidade

Conjunto de diretrizes, indicadores e metas para o desenvolvimento de uma metrópole justa e sustentável

Um grupo de cinco organizações da sociedade civil lançou nesta quarta-feira (23/11) o Plano São Paulo 2022, que tem por objetivo contribuir para o planejamento do futuro da cidade nos próximos 10 anos. O documento, que está disponível no portal da Rede Nossa São Paulo, contém um conjunto de diretrizes, indicadores e metas que apontam para uma capital paulista justa e sustentável.
Além da Rede participaram da elaboração e do lançamento do Plano São Paulo 2022, ocorrido no Sesc Vila Mariana, a Escola da Cidade, o Instituto Ethos, Instituto Arapyaú e Instituto Socioambiental. “A ideia das organizações, ao prepararem esse material, é quebrar a tradição de pensar a cidade apenas no curto prazo”, afirmou Oded Grajew, coordenador geral da Nossa São Paulo.
De acordo com ele, as propostas do plano não são definitivas e, sim, contribuições da sociedade “para que São Paulo tenha um diagnóstico e um planejamento que vise à construção de uma cidade sustentável”.
Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, reconheceu que houve alguns avanços na cidade nos últimos. “Porém, os avanços que temos obtido estão acontecendo em uma velocidade muito menor do que precisamos”, lamentou. Entre os desafios que precisam ser enfrentados para solucionar o descompasso entre as mudanças necessárias e as que efetivamente acontecem, em sua avaliação, está a questão política. “Os governos têm defendido muito mais o interesse privado do que o público”, constatou.
Para Abrahão, em razão desse tipo de problema, os governantes não têm um olhar de longo prazo. “O Plano São Paulo 2022 constrói essa visão de futuro e pode ter um papel de exemplaridade nesse processo, para que outras cidades possam ter essa reflexão.”
O documento foi apresentado pelo economista Cícero Yagi, que explicou porque o material pode ser importante para o futuro da cidade.  Ele destacou que o próximo Plano Diretor estratégico de São Paulo, a ser discutido e votado no próximo período pela Câmara Municipal, será “uma grande oportunidade para sociedade influir nos destinos da capital paulista nos próximos 10 anos”.
O plano está dividido em cinco capítulos: Cidade democrática, participativa e descentralizada; Cidade saudável, cuidadora dos bens naturais e consumidora responsável; Cidade compacta, ágil e policêntrica; Cidade inclusiva, segura e próspera; e Cidade educadora, criativa e conectada.
Na avaliação do professor Ladislau Dowbor, que comentou o resultado do trabalho, a descentralização administrativa é fundamental para uma cidade com as dimensões de São Paulo. “Subprefeituras, como a do M’Boi Mirim, tem 600 mil habitantes e zero de capacidade e autonomia de gestão”, criticou.
Durante o lançamento do São Paulo 2022, foi realizado um debate com a participação de José Police Neto (PSD), presidente da Câmara Municipal, Antônio Marchioni, o padre Ticão, da Paróquia São Francisco de Assis e do Movimento Nossa Zona Leste, Eduardo Della Manna, diretor do SECOVI-SP, e Nabil Bonduki, Secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente





domingo, 19 de junho de 2011

Carta do Cacique Mutua a todos os povos da Terra

http://www.xinguvivo.org.br/


Poetas, cientistas, índios, juristas, engenheiros, Verdes, ecologistas e a megausina no Xingu
Ontem houve em nossa região nordeste paulista (distante quase 2 milkm do Xingu) fortes rajadas de vento e segundo análises científicas e de metereologistas o que provocou estas ventanias de mais de 80km/hora foi o encontro de massa de ar frio da Amazônia com a massa de ar quente de nossa região. 
 Leia abaixo e veja se esta msm faz sentido com os ventos que sopraram em nossa região...pois eu acredito que na Terra está tudo conectado...e o vento nos alerta para o perigo e a natureza por socorro e para tomarmos atitude, é preciso que os Verdes avancem.



"O Sol me acordou dançando no meu rosto. Pela manhã, atravessou a palha da oca e brincou com meus olhos sonolentos. O irmão Vento, mensageiro do Grande Espírito, soprou meu nome, fazendo tremer as folhas das plantas lá fora.  Eu sou Mutua, cacique da aldeia dos Xavantes. Na nossa língua, Xingu quer dizer água boa, água limpa. É o nome do nosso rio sagrado.
 Como guiso da serpente, o Vento anunciou perigo. Meu coração pesou como jaca madura, a garganta pediu saliva. Eu ouvi. O Grande Espírito da floresta estava bravo.
 Xingu banha toda a floresta com a água da vida. Ele traz alegria e sorriso no rosto dos curumins da aldeia. Xingu traz alimento para nossa tribo.
 Mas hoje nosso povo está triste. Xingu recebeu sentença de morte. Os caciques dos homens brancos vão matar nosso rio.
 O lamento do Vento diz que logo vem uma tal de usina para nossa terra. O nome dela é Belo Monte. No vilarejo de Altamira, vão construir a barragem. Vão tirar um monte de terra, mais do que fizeram lá longe, no canal do Panamá.
 Enquanto inundam a floresta de um lado, prendem a água de outro. Xingu vai correr mais devagar. A floresta vai secar em volta. Os animais vão morrer. Vai diminuir a desova dos peixes. E se sobrar vida, ficará triste como o índio.
Como uma grande serpente prateada, Xingu desliza pelo Pará e Mato Grosso, refrescando toda a floresta. Xingu vai longe desembocar no Rio Amazonas e alimentar outros povos distantes. Se o rio morre, a gente também morre, os animais, a floresta, a roça, o peixe tudo morre. Aprendi isso com meu pai, o grande cacique Aritana, que me ensinou como fincar o peixe na água, usando a flecha, para servir nosso alimento.
 Se Xingu morre, o curumim do futuro dormirá para sempre no passado, levando o canto da sabedoria do nosso povo para o fundo das águas de sangue.
 Hoje pela manhã, o Vento me levou para a floresta. O Espírito do Vento é apressado, tem de correr mundo, soprar o saber da alma da Natureza nos ouvidos dos outros pajés. Mas o homem branco está surdo e há muito tempo não ouve mais o Vento.
Eu falei com a Floresta, com o Vento, com o Céu e com o Xingu. Entendo a língua da arara, da onça, do macaco, do tamanduá, da anta e do tatu. O Sol, a Lua e a Terra são sagrados para nós.
 Quando um índio nasce, ele se torna parte da Mãe Natureza. Nossos antepassados, muitos que partiram pela mão do homem branco, são sagrados para o meu povo.
É verdade que, depois que homem branco chegou, o homem vermelho nunca mais foi o mesmo. Ele trouxe o espírito da doença, a gripe que matou nosso povo. E o espírito da ganância que roubou nossas árvores e matou nossos bichos. No passado, já fomos milhões. Hoje, somos somente cinco mil índios à beira do Xingu, não sei por quanto tempo.
 Na roça, ainda conseguimos plantar a mandioca, que é nosso principal alimento, junto com o peixe. Com ela, a gente faz o beiju. Conta a história que Mandioca nasceu do corpo branco de uma linda indiazinha, enterrada numa oca, por causa das lágrimas de saudades dos seus pais caídas na terra que a guardava.
 O Sol me acordou dançando no meu rosto. E o Vento trouxe o clamor do rio que está bravo. Sou corajoso guerreiro, não temo nada.
Caminharei sobre jacarés, enfrentarei o abraço de morte da jiboia e as garras terríveis da suçuarana. Por cima de todas as coisas pularei, se quiserem me segurar. Os espíritos têm sentimentos e não gostam de muito esperar.
 Eu aprendi desde pequeno a falar com o Grande Espírito da floresta. Foi num dia de chuva, quando corria sozinho dentro da mata, e senti cócegas nos pés quando pisei as sementes de castanha do chão. O meu arco e flecha seguiam a caça, enquanto eu mesmo era caçado pelas sombras dos seres mágicos da floresta.
O espírito do Gavião Real agora aparece rodopiando com suas grandes asas no céu.
 Com um grito agudo perguntou:
 Quem foi o primeiro a ferir o corpo de Xingu?
 Meu coração apertado como a polpa do pequi não tem coragem de dizer que foi o representante do reino dos homens.
O espírito do Gavião Real diz que se a artéria do Xingu for rompida por causa da barragem, a ira do rio se espalhará por toda a terra como sangue e seu cheiro será o da morte.
O Sol me acordou brincando no meu rosto. O dia se abriu e me perguntou da vida do rio. Se matarem o Xingu, todos veremos o alimento virar areia.
A ave de cabeça majestosa me atraiu para a reunião dos espíritos sagrados na floresta. Pisando as folhas velhas do chão com cuidado, pois a terra está grávida, segui a trilha do rio Xingu. Lembrei que, antes, a gente ia para a cidade e no caminho eu só via árvores.
Agora, o madeireiro e o fazendeiro espremeram o índio perto do rio com o cultivo de pastos para boi e plantações mergulhadas no veneno. A terra está estragada. Depois de matar a nossa floresta, nossos animais, sujar nossos rios e derrubar nossas árvores, querem matar Xingu.
O Sol me acordou brincando no meu rosto. E no caminho do rio passei pela Grande Árvore e uma seiva vermelha deslizava pelo seu nódulo.
 Quem arrancou a pele da nossa mãe? gemeu a velha senhora num sentimento profundo de dor.
As palavras faltaram na minha boca. Não tinha como explicar o mal que trarão à terra.
Leve a nossa voz para os quatro cantos do mundo clamou O Vento ligeiro soprará até as conchas dos ouvidos amigos ventilou por último, usando a língua antiga, enquanto as folhas no alto se debatiam.
Nosso povo tentou gritar contra os negócios dos homens. Levamos nossa gente para falar com cacique dos brancos. Nossos caciques do Xingu viajaram preocupados e revoltados para Brasília. Eu estava lá, e vi tudo acontecer.
Os caciques caraíbas se escondem. Não querem olhar direto nos nossos olhos. Eles dizem que nos consultaram, mas ninguém foi ouvido.
O homem branco devia saber que nada cresce se não prestar reverência à vida e à natureza. Tudo que acontecer aqui vai voar com o Vento que não tem fronteiras. Recairá um dia em calor e sofrimento para outros povos distantes do mundo.
O tempo da verdade chegou e existe missão em cada estrela que brilha nas ondas do Rio Xingu. Pronta para desvendar seus mistérios, tanto no mundo dos homens como na natureza.
Eu sou o cacique Mutua e esta é minha palavra! Esta é minha dança! E este é o meu canto!
Porta-voz da nossa tradição, vamos nos fortalecer. Casa de Rezas, vamos nos fortalecer. Bicho-Espírito, vamos nos fortalecer. Maracá, vamos nos fortalecer. Vento, vamos nos fortalecer. Terra, vamos nos fortalecer.
Rio Xingu! Vamos nos fortalecer!


Leve minha mensagem nas suas ondas para todo o mundo: a terra é fonte de toda vida, mas precisa de todos nós para dar vida e fazer tudo crescer.
Quando você avistar um reflexo mais brilhante nas águas de um rio, lago ou mar, é a mensagem de lamento do Xingu clamando por viver".

Cacique Mutua, em nome dos índios e de todos que amam a Mãe Natureza

Indios Xavantes e Kaiapós choraram em ato público contra megausina no Xingu